terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Selic reaviva disputa entre DI e poupança

Valor Econômico
08/02/2011
O ciclo de alta dos juros, retomado em janeiro pelo Banco Central, reavivou a tradicional disputa entre a poupança e os fundos DI. Quanto mais alta a Selic, melhor a rentabilidade desses fundos e o mercado prevê uma taxa de 12,5% no fim do ano. Com isso, depois de perder atratividade a partir de 2009, quando a Selic caiu para um dígito, as fundos DI podem render mais que a poupança. Com a taxa em 12,5%, por exemplo, os fundos pagariam 8% em um ano e a poupança, 7,06%. Mas antes de trocar o DI pela caderneta, o investidor deve verificar a taxa de administração do fundo. Se e1a for superior a 2,5%, dificilmente terá rentabilidade superior à da poupança.
A revanche dos fundos DI
Por Antonio Perez, de São Paulo
O ciclo de alta dos juros básicos da economia (Selic), iniciado no mês passado pelo Banco Central (BC), reavivou a tradicional disputa entre a caderneta de poupança e os fundos de investimento pelo bolso do investidor. Depois de viverem na berlinda em 2009, com a queda da taxa Selic para um dígito, e amargarem ganhos tímidos em 2010, os fundos referenciados DI podem ir à forra este ano.
Com a Selic em 12,50% ao ano, como prevê o boletim Focus - levantamento do BC com a expectativa de mais de cem instituições financeiras -, os fundos DI com taxa de administração de até 2% teriam rentabilidade líquida (já descontado o Imposto de Renda) de 8% em um ano, acima, portanto, da poupança, de 7,06%. Quanto mais alta a Selic, maiores os ganhos dos fundos DI, cuja rentabilidade reflete a variação do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) - que, por sua vez, segue de perto a taxa Selic. Se a previsão do boletim Focus se confirmar, os juros subirão mais 1,25 ponto percentual, já que a taxa hoje é de 11,25% ao ano.
Há quem aposte, contudo, que a Selic terá que subir ainda mais para que o dragão da inflação seja domado. É o caso de Alexandre Espírito Santo, chefe de Finanças da ESPM-RJ e economista da Way Investimentos, que aposta em elevação da taxa até 13%. "E se o governo não promover um corte de gastos severo, a Selic terá que subir ainda mais para que a inflação não encoste no teto da meta, de 6,5%", diz Espírito Santo. "Caso o BC cumpra seu mandato e busque o centro da meta (de 4,5%), os fundos DI serão a melhor alternativa conservadora de investimento ", acrescenta.
Antes de tirar o dinheiro da poupança e aplicar em um fundo DI, contudo, o investidor tem que fazer algumas contas, ressalta o economista da Way. Nesses fundos, diferentemente da poupança, há cobrança de taxa de administração e de Imposto de Renda (IR) sobre os ganhos. Com taxa Selic de 12,50%, os fundos DI baterão a caderneta para aplicações com prazo mínimo de seis meses e taxa de administração de até 2% ao ano. Caso contrário, é melhor deixar os recursos na poupança.
Isso significa que os grandes bancos de varejo terão que baixar as taxas de administração caso queiram fisgar o pequeno aplicador. Um levantamento realizado pelo Valor mostra que, entre seis instituições (Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, HSBC, Banco do Brasil e Caixa), apenas carteiras com aplicação mínima de R$ 1 mil têm taxa inferior a 2,5%.
Para uma aplicação inicial de R$ 100, somente a Caixa Econômica Federal tem uma taxa que torna o DI competitivo com a poupança (2% ao ano). Na outra ponta, figura o fundo do Santander Classic Referenciado DI, com taxa de administração de 5%. No Banco do Brasil, o fundo com menor aplicação mínima (R$ 200) cobra 3% ao ano. No HSBC, um fundo com aporte inicial de R$ 500 tem taxa de administração de 2,50%. "Mesmo com a alta da Selic, a taxa de administração continua sendo crucial para a rentabilidade dos DIs", diz Bruno Lembi, sócio da empresa de aconselhamento financeiro M2 Investimentos.
Espírito Santo, da Way Investimentos, ressalta que o cálculo dos ganhos dos DIs deve levar em conta também a taxa média da Selic. Confirmada a previsão do Focus, essa taxa média será de 12,22%. Se os juros forem elevado para 13%, como prevê o economista, a Selic média ainda será um pouco maior. Em todo caso, diz Espírito Santo, o ideal é que o investidor vá para o DI apenas se tiver recursos para aplicar em fundos com até taxa de 2% e com um prazo mínimo de seis meses. "Quem não tem dinheiro para conseguir um fundo com taxa até 2% deve primeiro ir juntando dinheiro na poupança", afirma.
A questão do prazo é importante devido à cobrança de IR sobre os ganhos dos fundos. Resgates em prazo inferiores a 180 dias (seis meses) pagam 22,5% de IR sobre o rendimento. A alíquota vai caindo conforme o prazo: 20% (de 181 até 360 dias), 17,5% (de 361 dias até 720 dias), 15% (mais de 720 dias). Considerando o prazo de um ano e CDI de 12,50%, uma aplicação de R$ 30 mil em um fundo DI com taxa de administração de 2% proporcionaria um ganho líquido de R$ 2.400 (ganho bruto de R$ 3.750, menos R$ 750 de IR e R$ 600 de taxa de administração). Caso aplicasse o mesmo valor na caderneta de poupança, que não cobra IR sobre o ganho nem taxa de administração, o valor seria de R$ 2.117. Com a Selic a 13%, os fundos DI com taxas de administração de até 2% tem ganho anual de 8,40%. No caso de uma taxa de 1% ao ano, o rendimento será 9,40%.
Lembi, da M2 Investimentos, ressalta que o rendimento dos fundos DI com Selic em cerca de 12,50% não será suficiente para trazer ganhos reais (descontada a inflação) elevados. O BC teria que elevar a Selic para 13% ou 13,25% ao ano para que inflação se encaminhe para o centro da meta, de 4,5%, diz ele "Mas a pressão política será muito grande e a Selic não vai subir até esse nível", afirma.
Ele lembra que o BC, em vez de iniciar mais cedo o aperto monetário, optou pela adoção medidas macroprudenciais, como o aumento do depósito compulsórios, para diminuir o ritmo de concessão de crédito e tentar esfriar a economia. Com Selic menor, o investidor deve conviver, este ano e em 2012, com inflação um pouco mais alta. Isso quer dizer que tanto os fundos DI quanto a caderneta de poupança exibirão ganhos reais (descontada a inflação) minguados. Na edição desta semana do boletim Focus, a expectativa para o IPCA deste ano subiu de 5,64% para 5,66%. Mas a projeção para o índice em 2012 recuou de 4,70% para 4,61%.
Com a inflação ainda em alta, Lembi recomenda aos investidores em fundos com títulos atrelados à inflação. "Essas carteiras já tiveram um bom desempenho bom em 2010 e devem continuar assim pelos próximo dois", afirma Lembi. "A inflação continuará a atrapalhar a vida do investidor mesmo com o aperto monetário".
A alta dos juros aumentará a competitividade dos fundos de varejo em relação à caderneta de poupança, diz Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM, braço de gestão do Banco do Brasil. "As cadernetas devem perder espaço", afirma Takahashi, que também prevê um declínio do interesse do investidor pelos Certificados de Depósito Bancário (CDBs)
Com um ritmo de crescimento menor do crédito, os bancos terão menos apetite por recursos e, por isso, devem a oferecer taxas menores no CDB. Outro fator que deve beneficiar o setor de fundo é o crescimento da renda de parte da população. "O bom desempenho da economia fez muita gente subir de faixa de renda e essas pessoas têm novas perspectivas e devem destinar mais recursos para os fundos", afirma Takahashi. (Colaborou Angelo Pavini)

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